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Dietrich Bonhoeffer e o preço da Graça


Vivemos dias difíceis. Cada vez mais, o Evangelho de Cristo é posto de lado em troca de reuniões de autoajuda que visam apenas massagear egos e consciências daqueles que vivem entregues às mazelas de sua natureza carnal. Princípios que são caros à fé evangélica vêm ficando em segundo plano em troca de um discurso complacente. A salvação é oferecida como se bastasse apenas levantar um das mãos ou dizer algumas frases. Mas o processo, apesar de simples, não se esgota aí. Não há cristianismo exterior apenas, a conversão transcende as aparências para penetrar até as intenções. É necessário que haja mudança de atitude, transformação de mente. Tem que, literalmente, nascer de novo.

O apóstolo Paulo deixa bem claro ao longo das suas epístolas que um preço foi pago para que recebêssemos a nossa salvação. A Graça não veio de graça:
"Fostes comprados por bom preço; não vos façais servos dos homens." 1Coríntios 7:23
"Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus." 1Coríntios 6:20
A despeito do que Paulo ensinava, cresce em nossos dias a ideia de que a Graça de Deus é totalmente vazia de encargos. Cada vez mais se prega um Evangelho light onde Jesus é um mero mordomo que está sempre de braços abertos para servir a todos aqueles que lhe entregarem uma esmola dominical. A Graça é apresentada como se fosse um mero capricho, ouvimos jargões do tipo "Jesus quer o seu coração apenas", "não dê ouvidos à religiosidade dos legalistas" e etc. E sob a desculpa do "amor de Cristo", todos são solenemente convidados a voltarem para os seus pecados ao longo de toda a semana. Há ainda os casos mais graves, onde se prega que nem mesmo o domingo precisamos dar, basta ser grato a Deus "no coração" e está tudo certo. Você pode até trocar o culto por uma baladinha! Por que não? Jesus te ama da mesma forma!

Só que esse não é o Evangelho genuíno, é outro. E sendo outro, é anátema:
"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema." Gálatas 1:8  
Essa banalização da Graça divina traz consequências terríveis! Porque, se nossa redenção foi paga a preço de sangue, não há como diminuir seu valor. Só que muitos têm literalmente vendido a graça por um preço muito baixo. é o que o teólogo polonês Dietrich Bonhoeffer (foto) chamou de "graça barata". Em sua obra chamada "Discipulado", ele escreve:

"A graça barata é graça como resto de estoque, perdão barateado, consolo barateado, sacramento barateado; é graça como riqueza inesgotável da Igreja, graça que mãos levianas gastam sem vacilo nem limite; é graça sem preço, sem custo. A essência da graça seria justamente esta: a fatura paga antecipadamente e para sempre. Se a fatura já está paga, pode-se obter tudo gratuitamente. Porque o custo é muito alto, também são incontáveis as possibilidades de uso e desperdício. O que seria a graça se não barata?
A graça barata é graça como doutrina, como princípio, como sistema; é perdão dos pecados como algo já dado por certo; é o amor de Deus como conceito cristão de Deus. Quem aceita o amor de Deus já está perdoado de seus pecados. A Igreja que segue esse tipo de doutrina da graça se vê automaticamente beneficiada por ela. Nessa Igreja, o mundo encontra cobertura barata para seus pecados, dos quais não se arrepende e, na verdade, não quer se libertar. Assim, a graça barata é a negação da Palavra viva de Deus, negação da encarnação da Palavra de Deus.
A graça barata, em vez de justificar o pecador, justifica o pecado. Desse modo, resolve tudo sozinha, nada precisa mudar e tudo pode permanecer como antes. “Nossos esforços são vãos.” O mundo continua mundo, e nós continuamos pecadores, “mesmo na vida mais piedosa”. O cristão pode, então, viver como toda gente, em pé de igualdade com todos, e não se atreve a, sob essa graça, ter uma vida diferente da que tinha sob o pecado, a fim de não ser acusado de herege fanático!"                                                                     
Precisamos abrir mão dessa noção conveniente de graça. É chegada a hora de aqueles que se dizem filhos de Deus buscarem a Ele com o devido temor. Ser cristão não é brincar de ter fé quando as coisas ficam difíceis. Ser cristão é viver em constante arrependimento sincero e em mudança de vida. É ter amente de Cristo. É experimentar não a barata, mas a preciosa Graça de Deus. Bonhoeffer também fala sobre ela:
"A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, pelo qual o ser humano vende feliz tudo que possui; é a pérola preciosa, pela qual o mercador oferece todos os seus bens; é o domínio do reino de Cristo, pelo qual o ser humano arranca o olho que o faz tropeçar; é o chamado de Jesus Cristo, pelo qual o discípulo deixa suas redes para trás e o segue.
A graça preciosa é o evangelho que sempre se deve procurar, a dádiva que se deve pedir, a porta à qual se tem de bater.
Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado; é graça porque chama ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao ser humano; é graça pois só assim dá vida ao ser humano; é preciosa porque condena o pecado; é graça porque justifica, perdoa o pecador. É preciosa sobretudo porque foi preciosa para Deus, porque lhe custou a vida de seu Filho — “Porque fostes comprados por preço” (ICo 6.20) — e portanto não pode ser barato para nós o que custou caro para Deus. É graça, sobretudo, porque Deus não considerou que seu próprio Filho custasse caro demais para pagar por nossa vida, e assim o deu por nós. A graça preciosa é a Encarnação de Deus."
 Enquanto não entendermos o preço que foi pago para que a Graça de Deus nos alcançasse, decepcionaremos e seremos decepcionados todos os dias.
"Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus."
2Timóteo 2:1
O show tem que parar. É necessário voltarmos ao verdadeiro Evangelho.
Dietrich Bonhoeffer e o preço da Graça Dietrich Bonhoeffer e o preço da Graça Reviewed by Alcino Júnior on quarta-feira, agosto 09, 2017 Rating: 5

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